O mercado do marketing e da comunicação é extremamente competitivo. Agências, consultores e freelancers, com vários graus de formação e experiência, competem por clientes que têm o poder de selecionar e adjudicar projetos. Como concorrem, neste mercado, profissionais de marketing e comunicação juniores e seniores? Respondem aos mesmos tipos de clientes e de projetos? Como podem coexistir estes dois perfis?
Entrevistamos Jaider Morais do Blog Design com Café que publicou um artigo sobre este tema: “Medo dos sobrinhos? Você pode estar no caminho errado”. Com a sua experiência e visão do mercado, respondeu às nossas perguntas. Aproveitamos para agradecer desde já a sua disponibilidade para colaborar com o Blog Marketing Campus.
O QUE VAIS ENCONTRAR NESTE ARTIGO:
Concorrência entre profissionais juniores e seniores: “tios” VS “sobrinhos”?
Jaider Morais (JM): Há muito tempo que me sinto incomodado com as reclamações de diversos “profissionais”, de que o cliente optou por um concorrente muito mais barato ou que usou alguma “comunidade de designers”, ou que fez ele mesmo, etc. E que isso prostitui o mercado ou banaliza a profissão.
Cheguei a ler relatos, num grupo em que participo, de pessoas desistindo da carreira por não saber lidar com a frustração dessas situações. Eu mesmo já me senti triste por situações assim, até entender que eu também estava no caminho errado.
O artigo que escrevi pode ser engraçado e divertido, mas eu queria, na verdade, incomodar essas pessoas e levá-las a reflectirem sobre seu posicionamento e mostrar que o “sobrinho” não é um inimigo, mas sim uma motivação.
Esta é uma concorrência desleal, ou desigual?
JM: Eu costumo criar comparações, trazendo as figuras dos “tios” e dos “sobrinhos” para outros segmentos de mercado. Por exemplo: Será que uma mulher procuraria um cirurgião plástico “sobrinho”? Será que alguém procuraria um tatuador “sobrinho”? E o mecânico do carro? Estou tentando dizer que, na prática, sabemos que o mais barato não é a melhor opção.
Certa vez eu indiquei um pintor de paredes para um amigo, e ele cobrou mais que o dobro em comparação com outro pintor que ele já conhecia. O fato é que o pintor que ele conhecia olhou para o serviço superficialmente e deu um valor. O pintor que eu indiquei, olhou, analisou as paredes e relatou todos os serviços que deveriam ser feitos antes da pintura. Mostrou que haviam defeitos de estrutura, que se apenas pintasse, como ele havia solicitado, teriam outros problemas em pouco tempo. O ideal seria corrigir todos esses problemas, antes da pintura. Resultado: ele optou por este pintor mais caro, pela segurança que ele transmitiu.
Isso é apenas um exemplo de que, na maioria das vezes um cliente não sabe o que quer, e apenas um profissional maduro poderá enxergar isso e apresentar a solução certa. Por outro lado, sempre teremos clientes interessados apenas no menor preço. Nesse caso ele até terá a parede pintada e até muito bonita, mas logo aparecerão outros problemas (o barato que saiu caro).
Podemos analisar o problema pelo prisma de cada um dos profissionais – juniores e seniores?
JM: Eu acredito que o profissional imaturo (júnior), que você mencionou, não tem culpa. Ele está apenas sobrevivendo e buscando o seu aperfeiçoamento. Ele precisa de oportunidades para praticar tudo que sabe e evoluir.
Este profissional pode até optar em não evoluir, prestando sempre serviços de menor preço e consequentemente com menos qualidade (a gente vê pessoas acomodadas em todos os segmentos). O problema surge quando, mesmo imaturo e sem capacidade técnica, este “sobrinho” ousa vender o que não pode/consegue entregar. Isso cria clientes frustrados e isso sim, pode provocar uma pequena mancha de credibilidade em toda a nossa categoria.
Sobre o profissional experiente (sénior), não tem muito segredo. O aperfeiçoamento e a qualidade é visível: profissionais excelentes atraem clientes excelentes.
Cabe a cada profissional conhecer-se a si mesmo e posicionar-se de acordo com sua capacidade técnica. E aos clientes fica a tarefa de escolher entre qualidade x preço / experiência x amadorismo / “tio” x “sobrinho”.
Os atuais profissionais juniores são futuros seniores que irão reclamar desta concorrência?
JM: Exatamente! Acredito que isso sempre existirá! É um ciclo: Eu começo cobrando mais barato e depois vou-me sentir incomodado por quem faz isso. Mas o fato é que profissionais experientes competem (ou deveriam competir) com profissionais experientes. Assim como agências grandes competem com agências grandes. Este entendimento só vem com a maturidade também.
Muitas vezes um “sobrinho” ou uma agência pequena servem para dar a oportunidade a um cliente com menos capacidade financeira de iniciar sua comunicação, mesmo que de uma forma um tanto quanto precária. Este cliente, provavelmente, não poderia pagar o custo de um profissional ou agência mais conceituada no mercado. Em contrapartida, graças a esses clientes menores e menos exigentes os pequenos profissionais tem as oportunidades que precisam para sobreviver e crescer. O mundo precisa disso para girar.
Um conselho final para profissionais de marketing e comunicação, e também para clientes.
JM: Sobrinhos: busquem sempre se aperfeiçoar e se inspirem nos tios. Eles já passaram por muitas situações que vocês ainda vão passar. Aprender com os erros deles, pode tornar sua jornada muito menos dolorosa e acelerar seu processo evolutivo.
Tios: os sobrinhos são um retrato daquilo que você já foi um dia. Lembre-se de quando já esteve na posição deles.
Clientes: no mercado você sempre vai encontrar a solução que busca e precisa. Cabe a você definir os parâmetros prioritários que irão atender as suas expectativas. Só uma dica: preço baixo e qualidade alta, geralmente andam na contramão.
O meu conselho, nesse caso, seria: se existem dois profissionais oferecendo os mesmos serviços, com preços muito diferentes, algo está errado. Antes de optar pelo mais barato, o cliente deve procurar valores de outros profissionais, para ter a real possibilidade de comparação. Outro ponto a ser medido nesses casos, é o portfólio do profissional. O que ele já fez diz muito sobre a capacidade técnica e experiência.
Em síntese
É inevitável que profissionais de marketing e comunicação juniores e seniores coexistam e que, por vezes, sejam concorrentes no mercado. Ambos têm vantagens e competências que podem ser aproveitadas pelos potenciais clientes. Os profissionais seniores, com maior experiência, estão em posição de assegurar um serviço com um know how mais aprofundado e amadurecido, com um custo compatível com esse nível. Os profissionais juniores, recém-chegados ao mercado, podem adequar-se melhor a projetos de pequena dimensão ou quando o cliente tem um orçamento limitado.
Cabe ao cliente fazer uma escolha refletida e consciente, com base não só nas habilitações dos profissionais, como na sua experiência e portfólio, tendo sempre presente que o barato pode, por vezes, sair caro.
Sobre o entrevistado Jaider Morais:
JM: Sou publicitário com quase duas décadas de experiência em design gráfico, consultoria em marketing, comunicação e treinamentos. Experiente em branding (com mais de 70 projetos, sendo 1 nos EUA e 1 na Austrália), criação de produtos, UX e UI. Já empreendi nas áreas de sites e sistemas, educação a distância e nutricosméticos. Atualmente sou fundador e colunista do Blog Design com Café, co-fundador e especialista em design da Azys Inovação e continuo atuando como freelance, publicando meus melhores projetos no meu portfólio pessoal.
Se o tema dos profissionais de marketing e comunicação te interessa, sugerimos-te um artigo sobre agências de publicidade e digitais publicado no noso blog.
Designed by Dimitry Miroliubov from Flaticon: www.flaticon.com